Bolsonaro embarca para participar da Assembleia Geral da ONU

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É bom o presidente Jair Bolsonaro preparar o espírito. O clima que o espera nas Nações Unidas não é nada favorável ao governo brasileiro, que ficará fora das discussões da cúpula de mudanças climáticas. “Eu até pedi para falar, mas não deixaram”, comentou com o Correio o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Ele sequer foi convidado para um evento paralelo, a Amazônia Possível, organizado pelo empresário Guilherme Leal, dono da Natura e ex-candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva, em 2014. Mesmo sem convite antecipado, o ministro telefonou a um dos organizadores, avisou que gostaria de ir e chegou meio de “penetra”.

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Num outro evento, também paralelo, num hotel, uma pessoa da plateia quis saber de um cientista quantas horas, dias ou semanas faltavam para que o fogo consumisse toda a floresta. Os diplomatas presentes ficaram atônitos. Os grandes portais e jornais do mundo abriram muitas reportagens nos últimos dias com a expressão “enquanto a Amazônia queima”.

Os incêndios em agosto deste ano, realmente, superaram as ocorrências no mesmo período do ano passado. Porém, a imagem internacional é a de terra totalmente arrasada e devastada. Nesse clima de desinformação sobre o que é a Amazônia, o grau de comprometimento da floresta pelos incêndios e sua extensão é que Bolsonaro chegará hoje à cidade para abrir a 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas na terça-feira pela manhã.

Até aqui, o trabalho do ministro do Meio Ambiente tem sido o de conter esse clima anti-Brasil e garantir recursos. Hoje, por exemplo, Salles almoça com o ministro da Economia da Alemanha, Gerd Müller, para ver se consegue destravar o Fundo da Amazônia. As notícias são de que a Alemanha suspendeu o repasse de 35 milhões de euros para aguardar o desfecho das ações em favor da Amazônia e Salles vai explicar ao ministro que as ações estão em curso.

Nesse sentido, de destravar perspectivas de investimento, é que as autoridades brasileiras e internacionais aguardam o que dirá o presidente Jair Bolsonaro. A fala, dizem os diplomatas americanos ouvidos pelo Correio, será crucial para passar a confiança e, ao mesmo tempo, garantir que o Brasil é responsável do ponto de vista do desenvolvimento sustentável e tem todas as condições de segurança para bons ambientes de negócios na Região Amazônica. “Se ele conseguir passar a ideia de que é possível investir sem desmatar, terá sido um grande feito”, comenta o assessor de um potencial investidor que, por enquanto, prefere ficar no anonimato.

Aliás, nessa linha “bioeconomia” é que se deu o evento Amazônia Possível, lotado de nomes ligados à ex-ministra Marina Silva, que hoje também estará em Nova York, e ao PT, como, por exemplo, a ex-ministra do Meio Ambiente Izabela Teixeira, que ficou na plateia, ao lado do ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, que continua de “quarentena” e vai se dedicar aos estudos numa universidade na Inglaterra. O cineasta Fernando Meirelles, esse sim, convidado a falar, foi na linha de “precisamos agir já, não podemos esperar mais”.

Para surpresa dos “marineiros”, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), um dos palestrantes, não escondeu sua preocupação: “Não tem ninguém mais interessado em proteger a Amazônia do que quem vive lá. Acontece que, se você não tiver como garantir o sustento da sua família, você vai derrubar uma árvore”, disse ele, sem meias-palavras. Um dos maiores problemas do país hoje é a carência de serviços sustentados e a baixa renda da população na região. A saída, algo que aliás une governo, marineiros e quem mais chegar, é a bioeconomia, ou seja, investir para gerar emprego, renda e negócios na região, sem destruir a floresta — um discurso que une o pensamento do empresário Guilherme Leal ao do ministro Ricardo Salles e também do presidente Bolsonaro.

As mudanças climáticas, entretanto, não são hoje apenas um problema do Brasil. O relatório Unidos pela Ciência, divulgado ontem, mostra preocupação com as geleiras e pressiona os países para a necessidade de triplicar as metas a que cada um se propôs dentro do acordo de Paris, com energia limpa, algo que o Brasil discorda, porque considera que já está fazendo a sua parte, conforme revelou ontem Ricardo Salles em  entrevista ao Correio.

Agenda

O presidente, entretanto, segundo seus assessores, não chegará a tempo de falar na cúpula das mudanças climáticas por recomendações médicas. A chegada ao hotel Intercontinental, na 48th East, na esquina com a Lexington Avenue, está prevista para 15h40 desta tarde. À noite, há a previsão de um jantar com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Porém, a assessoria ainda não confirma esse encontro. A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, tem uma agenda paralela nesta segunda-feira, na missão do Paraguai na ONU, da associação de primeiras-damas. Tem ainda um outro evento, da Unicef, ambos fechados, sem participação da imprensa.

Por causa das condições de saúde do presidente, não estão previstos encontros paralelos. Porém, ele está no hotel onde está também toda a delegação da Coreia do Sul, e, em outras oportunidades, o líder isralense, Benjamin Netanyahu, também se hospedou ali. Amanhã, toda a área do hotel será fechada, como aliás, sempre ocorre quando há muita concentração de chefes de Estado. Hoje, por exemplo cães farejadores eram conduzidos pelo lobby por seus treinadores, acompanhados de agentes do serviço secreto americano. A previsão é de que Bolsonaro volte ao Brasil na noite de terça-feira.

Fonte: Notisul

Por: Deivis W. Fernandes / RCNoticia